
A vida é a questão por excelência do pensamento ético de Aristóteles, central na Ética a Nicómaco, que ora introduzimos na tradução em português de Dimas de Almeida, uma versão honrada, legível e de uma limpidez assinalável, discutível sem dúvida em algumas das suas opções (mas poderia ser de outro modo?). O tema é igualmente relevante, embora menos sistemático, na Ética a Eudemo e em Magna Moralia, escrito que, se bem que de autoria controversa, é indubitavelmente de matriz aristotélica. A obra enuncia logo no início a equação «vida boa» (eu zen) -- «bem agir» ou «ser bem sucedido» (eu prattein) -- «felicidade» (eudaimonia) (Ét. Nic. 1095 a 19-20), eixo em torno do qual se virá a desenrolar a reflexão, com digressões, suspensões, sobreposição de materiais e remissões inconclusivas, mas que, afinal, não comprometem a preocupação nuclear expressa nessa equação, ao mesmo tempo que nesta se desenha a sua coerência: as três expressões designam o mesmo problema e esclarecem-se mutuamente como seus vectores essenciais. Da Introdução de Manuel J. do Carmo Ferreira