
Como bem nos mostrou António Nóvoa, o associativismo dos professores representou historicamente um dos passos mais importantes dados no sentido da profissionalização da atividade docente. Este associativismo, de que os congressos são um exemplo, a par da atividade das associações propriamente ditas e da imprensa pedagógica, permitiu a criação de um contexto intelctual e afetivo favorável à socialização dos professores nas crenças e valores próprios à profissão, contribuindo, assim, para a difusão de um sentimento de pertença a uma mesma comunidade simbólica. O movimento associativo de professores tem as suas raízes no século XIX. É ainda nesse século que é publicada a Revista dos Liceus (1891-1896), dirigida por Borges Grainha, a primeira a dar conta dos interesses específicos do professorado do ensino liceal. É, no entanto, já no século XX, que surge a primeira organização representativa deste setor: a Associação do Magistério Secundário Oficial (1904).
Os congressos pedagógicos realizados na transição dos anos 1920 para os anos 1930, estudados por Anabela Mimoso e Bento Cavadas, surgem, de alguma maneira, e por paradoxal que isso possa parecer, como um ponto alto no percurso associativo e, simultaneamente, como o seu ponto de recuo. O contexto político torna-se gradualmente mais desfavorável, à medida que institucionalização do Estado Novo se torna uma realidade cada vez mais efetiva. É nesses conturbados tempos que os professores, os manuais escolares, a inspeção, a progressão na carreira, entre outros, analisados com detalhe pelos autores, que procuram também refletir sobre a geografia dos congressos, a respetiva agenda, a identidade dos participantes ou o peso da representação feminina.
Trata-se de uma obra essencial, a partir de agora, para conhecer um momento que entrou na mitologia da profissionalização docente.